quinta-feira, 5 de maio de 2011

Código genético do DNA é descrito matematicamente por brasileiros

Com informações do Jornal da Unicamp - 04/05/2011
Código genético do DNA é descrito matematicamente por brasileiros
A descoberta da estrutura matemática do DNA, além de referendar os fatos descritos pela biologia, é altamente promissora para o entendimento de anomalias observadas nos sistemas celulares e mesmo para possibilitar previsões de novas descobertas ainda não observadas em laboratório.[Imagem: Yikrazuul/Wikimedia]
Descrição matemática do DNA
Cientistas brasileiros descobriram que as sequências das moléculas de DNA podem ser reproduzidas através de estruturas matemáticas.
A descrição matemática da estrutura genética deverá ampliar consideravelmente a capacidade de compreensão do funcionamento dos sistemas biológicos - e, eventualmente, as possibilidades de sua manipulação.
Na física e na química, o uso de equações matemáticas para explicar, quantificar e prever a possibilidade de ocorrência de transformações naturais ou provocadas se tornou rotineiro.
Na biologia, porém, esse recurso é bem mais recente e ainda muito restrito. Vários pesquisadores das áreas de teoria e codificação da informação, principalmente nos EUA e da Europa, vinham tentando reproduzir as sequências de DNA através de estruturas matemáticas.
A primazia do feito, contudo, coube a um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade de São Paulo (USP).
Código de correção de erros
Os cientistas brasileiros estabeleceram uma relação matemática entre um código numérico e a sequência do DNA, o ácido desoxirribonucléico, portador dos genes dentro das células.
O código numérico é similar ao usado para correção de erros em programas de computador.
De forma geral, os códigos de correção de erros estão presentes na comunicação via satélite, nas comunicações internas de um computador e no armazenamento de dados - portanto, fazem parte do cotidiano de todos que usam a internet, celulares, TVs, CDs, pen-drives etc.
A utilização destes códigos tem como objetivo a correção de erros que ocorrem durante a transmissão ou o armazenamento da informação.
A associação dos códigos corretores de erros com sequências de DNA constitui objeto de pesquisa desde os anos 80.
O grupo brasileiro estabeleceu essa relação com diferentes sequências de DNA que constituem o genoma (exons, íntrons, DNA repetitivo, sequência de direcionamento, proteínas, hormônios, gene, etc) até chegarem na reprodução do genoma completo de um plasmídeo.
DNA mitocondrial
As mitocôndrias, organelas responsáveis pela respiração celular, apesar de conterem o seu próprio DNA e toda maquinaria necessária para fabricar proteínas, sintetizam somente um pequeno número dessas proteínas.
A grande maioria das proteínas mitocondriais é codificada por genes que ficam no núcleo das células, sintetizadas no citosol e posteriormente enviadas para as mitocôndrias.
Neste caso, a proteína é considerada como a informação que será enviada para a organela, existindo um código padrão para transmiti-la.
Durante o estudo, os pesquisadores brasileiros mostraram que o modelo que empregaram se ajusta a diferentes sequências de DNA.
Essa modelagem, além de referendar os fatos descritos pela biologia, mostra-se altamente promissora para o entendimento de anomalias observadas nos sistemas celulares e mesmo para possibilitar previsões de novas descobertas ainda não observadas em laboratório.
Código genético do DNA é descrito matematicamente por brasileiros
A modelagem matemática do código genético do DNA pode possibilitar a descoberta de curas de doenças de forma mais rápida do que é possível hoje. [Imagem: Bbkkk/Wikimedia]
Grupo interdisciplinar
A complexidade do assunto, e a interface com outras áreas do conhecimento, exigiu a formação de um grupo interdisciplinar para levar a pesquisa adiante.
A possibilidade de utilização de um código matemático que transcrevesse a sequência de DNA foi proposta pelo professor Reginaldo Palazzo Júnior, da Unicamp, a duas de suas alunas de doutorado: Andréa Santos Leite da Rocha e Luzinete Cristina Bonani de Faria, ambas graduadas em matemática pela PUC-Campinas.
Elas se propuseram inicialmente a estudar o transporte das proteínas mitocondriais.
O grupo interdisciplinar se consolidou com a colaboração do professor Márcio de Castro Silva Filho, geneticista especializado em transporte de proteínas, da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, e do engenheiro de computação João Henrique Kleinschmidt, professor da Universidade Federal do ABC, em Santo André.
Reginaldo Palazzo, ele próprio vindo da engenharia elétrica, é especialista na chamada teoria matemática da comunicação, área de estudo da transmissão de todo o tipo de informação e de seus códigos.
Código genético matemático
Iniciou-se então a abordagem para descrever uma estrutura matemática nas sequências de DNA.
A modelagem matemática que se mostrou adequada foi aplicada tanto em sequências de DNA de fungos, vírus, plantas, bactérias e humanos, quanto no gene "TRAV7" do Homo sapiens e no genoma do plasmídeo (DNA extra-cromossomais) da bactéria Lactococcus lactis, verificando que a maioria destas sequências foi geradas por um código matemático.
O feito dos pesquisadores brasileiros apresenta uma solução importante e inovadora para a biologia, permitindo que os fenômenos possam passar a ser analisados por métodos quantitativos.
Palazzo considera que essa nova fase exigirá maior diálogo entre biólogos, matemáticos e engenheiros eletrônicos e afirma estar plenamente convencido de que a teoria da informação constitui uma ferramenta adequada para o intercâmbio com a biologia molecular.
Ele reconhece que essa interdisciplinaridade ainda está distante, embora a seu ver o grupo tenha dado um grande passo inicial.
Resultados concretos
A linha de pesquisa orientada por Palazzo desenvolve programas computacionais para a geração, classificação e análise mutacional e de polimorfismos em sequências de DNA.
A pesquisa abre a possibilidade, a partir de um código e de uma solução matemática, de corrigir uma mutação ou um erro celular, de produzir proteínas desejadas e também de encontrar proteínas ainda desconhecidas existentes nas células.
Em decorrência, o método pode ser aplicado em projetos e pesquisas com a finalidade de criar novas funções para determinada sequência de DNA através de mutações segundo as necessidades comerciais e científicas, afirmam Andréa e Luzinete.
Essa modelagem matemática, afirma o professor Palazzo, que permite caracterizar um sistema biológico, pode possibilitar, através de um programa computacional, a realização de análises que levem a resultados concretos.
Hoje, a pesquisa na área da saúde é, em geral, demorada e dispendiosa. E, mesmo assim, não raro, depois de um longo tempo, não se conseguem resultados positivos.
Com a utilização de um software, a caracterização e a simulação do que se pretende pode ser realizada previamente no computador.
As previsões teóricas poderão ser testadas em laboratório de uma forma sistemática e eficaz, tornando os resultados muito mais confiáveis. A modelagem matemática pode possibilitar a cura de uma doença de forma mais rápida, segundo o pesquisador.
Biologia matemática
Para o professor, a teoria se mostrou válida para certos fatos concretos, mas admite que ainda há muito a ser feito.
Ele considera que a linha adotada está sendo delineada e lembra que alguns pesquisadores chegam a afirmar que não existe uma estrutura matemática que possa ser associada a sequências de DNA. "Nós estamos mostrando que existe", afirma o docente.
Ele insiste que o processo adotado efetivamente inova na modelagem em relação aos trabalhos propostos anteriormente e revela-se bastante coerente e consistente com o modelo biológico vigente.
Os pesquisadores consideram que, por tratar-se de uma proposta nova, que se insere numa área estratégica de pesquisa e de inovação tecnológica e, mais, que a detenção do conhecimento necessário se resume a poucos pesquisadores, é imprescindível que esforços sejam despendidos na formação de recursos humanos para o estabelecimento de uma massa crítica de especialistas na área.
Para isso, consideram fundamental o respaldo institucional quanto ao reconhecimento da relevância em prover uma infraestrutura de pesquisa bem como no estabelecimento de um programa de pós-graduação na área.

DESAFIO SEBRAE



Galera, já estamos em 2011 e logo teremos mais uma edição doDesafio Sebrae. O tema dessa vez será sobre veículos sustentáveis (ecologicamente corretos). A previsão é que as inscrições abram dia 6 de abril e encerrem em 11 de maio. A novidade é que o tempo de espera para o começo do jogo será mínimo. Deve começar ainda em maio.
As fases presenciais (semifinal e final nacional) serão disputadas em Brasília, no final do ano. O valor da inscrição será de R$ 50,00 por equipe. Claro. As datas acima podem sofrer pequenas alterações devido a ajustes de cronograma, mas o importante é ficar preparado para encarar mais este desafio.
Bom Desafio Sebrae 2011
http://www.desafio.sebrae.com.br/Site/Materias/427

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Borracha versátil
Látex é matéria-prima para controle de obesidade e outros produtos usados por diabéticos

Do látex extraído da seringueira amazônica os pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) estão desenvolvendo novos produtos para a área da saúde, destinados principalmente a pacientes diabéticos. “É uma matéria-prima de fácil manuseio e barata, porque o litro de látex custa cerca de R$ 17,00”, diz a professora Suélia Rodrigues Fleury Rosa, do Laboratório de Engenharia e Inovação da UnB docampus de Gama, a 30 quilômetros da capital federal, coordenadora da pesquisa. O primeiro projeto desenvolvido pelo grupo é uma prótese de esôfago para controle da obesidade e do diabetes tipo 2. “É um dispositivo biocompatível e flexível que tem a função de controlar a ingestão alimentar pela redução do diâmetro do esôfago, órgão que funciona como um tubo condutor entre a faringe e o estômago”, diz Suélia.
Ao ser inserido no esôfago por via endoscópica, o dispositivo, indicado para ser usado por até 10 dias, causa resistência à passagem dos alimentos, tornando a ingestão mais lenta devido à necessidade de mastigação prolongada. “Esse efeito sobre a mastigação exerce influência nos mecanismos desencadeadores da saciedade e ajuda na reeducação alimentar de pacientes obesos, com consequente perda de peso e melhora nos níveis de glicemia”, diz Suélia. Nos testes experimentais feitos em cães, endoscopias comparativas feitas antes da colocação do módulo no esôfago e após a retirada do dispositivo, que permaneceu no organismo entre sete e 15 dias, mostraram que toda a área do órgão se manteve íntegra, sem nenhuma alteração.
Atualmente, além da cirurgia bariátrica – redução do estômago, que é o último recurso usado contra a obesidade extrema, mas impõe uma série de limitações aos pacientes –, existem outras formas de tratamento, também classificadas como cirúrgicas e menos radicais. São as chamadas técnicas restritivas, como a banda gástrica ajustável e o balão intragástrico, similares ao módulo criado na UnB, chamado de controlador de fluxo esofagiano (CFE). A principal diferença entre eles é o local onde são aplicados, porque os dois dispositivos que estão em uso atuam na compressão do estômago.
A banda gástrica ajustável consiste em uma fita de silicone colocada na parte alta do estômago. Após ser insuflada leva a um estreitamento do órgão, diminuindo sua capacidade em torno de 30 mililitros, o que restringe o volume da alimentação. “Essa técnica é indicada para pacientes não muito obesos, já que a perda de peso fica em torno de 20%, que não gostem de doces e álcool”, diz Suélia. “Entre as complicações pós-cirúrgicas estão dilatação do esôfago pela dificuldade de esvaziamento do órgão, obstrução total do estômago e infecção por contato com líquido digestivo.” A outra técnica é o balão intragástrico, prótese de silicone de formato esférico introduzida pela boca e levada ao estômago. É uma técnica útil para coibir a ingestão de alimentos de consistência pastosa ou sólida, mas não para líquidos. “Bebidas alcoólicas e outros líquidos com grande teor calórico são bem tolerados e, quando usados compulsivamente, se tornam a causa de insucesso do método para perder peso”, ressalta a pesquisadora.
O dispositivo da UnB tem o formato de um balão cilíndrico de oito centímetros de comprimento, com a superfície interna lisa e a externa ondulada com ranhuras. A aplicação é feita por endoscopia, com o balão vazio, na parte superior do órgão. Depois de posicionado no local correto, ele é inflado com oxigênio. “O objetivo do tratamento é que o paciente aprenda a mastigar e a comer corretamente com a ajuda de fonoaudiólogos, médicos especialistas e psicólogos”, diz Suélia. O projeto de desenvolvimento do CFE, que começou a tomar forma em 2006, durante o doutorado de Suélia, recebeu o Prêmio Santander de Empreendedorismo e de Ciência e Inovação em 2008 e o Prêmio Jovem Inventor da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal em 2009. A ideia surgiu a partir da observação de que pessoas com patologias obstrutivas de esôfago, como anel esofágico inferior e membranas esofágicas, apresentam grande perda de peso, mas não desnutrição.
Método inovador - “A minha mentora foi a professora Fátima Mrué, da Universidade Federal de Goiás (UFG), que desde 1994 estuda o látex”, diz Suélia. Fátima desenvolveu junto com o professor Joaquim Coutinho Netto, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, uma biomembrana à base de látex usada como curativo para feridas crônicas (leia mais sobre o assunto na edição 88 de Pesquisa FAPESP), lançada comercialmente com o nome de Biocure pela empresa Pele Nova Biotecnologia. Para o desenvolvimento da prótese de esôfago, a pesquisadora contou com a orientação dos professores Adson Ferreira da Rocha, da Faculdade de Tecnologia da UnB, e José da Conceição Carvalho, da Faculdade de Medicina da UFG.
A próxima etapa do projeto consiste em testar a prótese em cinco voluntários durante um período de 10 dias. “A perda de peso esperada é de cerca de um quilo por dia”, diz Suélia. “O estudo em um grupo pequeno deve-se à inovação do método e também para que todas as questões referentes à metodologia, aos riscos e aos desconfortos possam ser tratadas com maior grau de segurança.” O pedido para testar em voluntários está sendo avaliado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Goiás, onde os testes serão feitos, e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), vinculada ao Ministério da Saúde. “A fase dos testes em humanos deverá se estender por cerca de um ano e meio”, diz. Depois disso, se tudo correr conforme o previsto, a pesquisadora pretende estabelecer parceria com uma empresa para a fabricação do produto.
O látex também foi a matéria-prima escolhida para ser usada na fabricação de uma palmilha que controla a pressão da pisada dos pés de diabéticos, como forma de prevenir futuras amputações. “Quando o diabético pisa incorretamente, por causa da má circulação no pé, começam a surgir feridas em alguns pontos mais sensíveis, que acabam evoluindo para a perda de dedos ou mesmo parte do pé”, diz Suélia. A palmilha terá um circuito eletrônico de baixo custo que vai monitorar as pisadas dos pacientes. “O controle possibilitará que seja feita uma fisioterapia dirigida para a ferida não evoluir”, relata. Ela também poderá ter em sua composição produtos químicos que ajudam na regeneração do tecido. Outra possibilidade que está em estudo é colocar na peça um laser de baixa frequência para ajudar na regeneração tecidual da ferida. A palmilha já tem um depósito de patente e está sendo analisada pelo comitê de ética da universidade para ser testada em pessoas.
Em um terceiro projeto o látex, depois de seco em estufa e submetido ao processo de vulcanização, é utilizado para fabricação de um colchão inteligente destinado a pessoas que passam longos períodos em repouso, como diabéticos, pacientes internados em unidades de tratamento intensivo e recém-nascidos hospitalizados, como forma de evitar a formação de escaras. O diferencial desse colchão é que os gomos serão inflados e desinflados automaticamente por um circuito interno pré-programado. “O objetivo é fazer uma distribuição de pressão uniforme, mas não contínua”, diz Suélia. Um colchão em escala reduzida está sendo testado pela equipe de pesquisadores para avaliar qual o intervalo de tempo que determinado ponto da pele suporta a pressão, quanto tempo aguenta e outros parâmetros. Com base nessas informações, será feita a configuração do colchão de acordo com as necessidades de cada paciente. As três pesquisas fazem parte de um projeto chamado Bioenglatex – desenvolvimento de dispositivos de látex aplicados à medicina.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Sinapse sintética é criada com nanotubos de carbono

Redação do Site Inovação Tecnológica - 03/05/2011
Sinapse sintética é criada com nanotubos de carbono
Os diversos nanotubos de carbono fazem as vezes dos dendritos, os pequenos elementos receptores dos neurônios. [Imagem: USC Viterbi School of Engineering]
Pesquisadores deram um passo significativo rumo ao uso da nanotecnologia para a construção de um cérebro artificial.
Eles usaram nanotubos de carbono para construir um circuito capaz de trocar informações por meio de sinapses.
Cérebro sintético
O circuito, que é analógico, usa diversos nanotubos de carbono, dispostos paralelamente entre eletrodos de titânio de paládio.
Os diversos nanotubos de carbono fazem as vezes dos dendritos, os pequenos elementos receptores dos neurônios.
Nos testes, o nanocircuito sináptico reproduziu a função de entrada do neurônio - a sinapse -, deixando os pesquisadores entusiasmados com a possibilidade de usar esse componente básico como fundamento para a construção do que eles chamam de um "cérebro sintético".
As formas de onda de entrada e saída da sinapse artificial reproduzem as ondas biológicas em forma, amplitudes relativas e duração.
"Este é um primeiro passo necessário no processo", afirma Alice Parker, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, que começou a trabalhar com a possibilidade de desenvolver um cérebro sintético em 2006.
Neurônios e sinapses artificiais
Os primeiros resultados vieram em 2009, quando Parker e seus colegas construíram os primeiros neurônios sintéticos.
"Nós queríamos responder à pergunta: É possível construir um circuito que age como um neurônio? A próxima etapa é ainda mais complexa: Como podemos construir estruturas a partir desses componentes que simulam o neurônio e, eventualmente, a função do cérebro, que tem 100 bilhões de neurônios?," comenta a pesquisadora.
Certamente o próximo passo não será um cérebro funcional.
Antes disso, os neurônios sintéticos poderão ser usados em próteses cerebrais, ou combinados em redes para efetuar processamentos mais rapidamente do que os computadores convencionais, com uma lógica do tipo von Neumann.
Plasticidade cerebral
Parker enfatiza que a sinapse agora fabricada é simplificada e que o desenvolvimento real de um cérebro sintético está a décadas de distância.
O próximo desafio rumo a esse objetivo será reproduzir a plasticidade cerebral nos circuitos - o cérebro humano produz novos neurônios continuamente e adapta-se ao longo da vida.
Reproduzir este processo usando circuitos analógicos será uma tarefa monumental, segundo a pesquisadora.
Contudo, proporcionalmente ao esforço poderão ser os resultados.
O entendimento do processo que fundamenta a inteligência humana terá implicações de longo alcance, incluindo o desenvolvimento de próteses biomecatrônicas, capazes de curar lesões cerebrais, ou o desenvolvimento de novas formas de inteligência artificial, que imitem o funcionamento do cérebro humano ou de animais superiores.
Cérebros artificiais
A busca pela construção de cérebros artificiais - ou, pelo menos, de computadores mais flexíveis e mais fáceis de programar, ou capazes de aprender por si sós - segue em várias frentes.
As sinapses artificiais construídas pela equipe a Dra Parker seguem a linha do hardware, assim como um componente construído com sangue humano apresentado há menos de um mês.
Uma equipe da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, está tentando usar um componente chamado memristor - uma mistura de transístor e memória - para criar um cérebro artificial semelhante ao cérebro de um gato.
A equipe do Dr. Giulio Tononi, da Universidade Wisconsin-Madison, é mais modesta, e se contentará com um cérebro de camundongo.
O desenvolvimento de um cérebro artificial emulado por software está mais adiantado: enquanto a IBM tenta apenas simular o cérebro de um gato em computador, em vez de construí-lo com um hardware totalmente novo, uma equipe britânica já consegue emular um cérebro com 1 bilhão de neurônios.
Bibliografia:

A biomimetic fabricated carbon nanotube synapse for prosthetic applications
Joshi, Jonathan, Zhang, Jialu, Wang, Chuan, Hsu, Chih-Chieh, Parker, Alice C., Zhou, Chongwu, Ravishankar, Udhay
Proceedings of the Life Science Systems and Applications Workshop
April 2011
Vol.: 2011 , Page(s): 139-142
DOI: 10.1109/LISSA.2011.5754178

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Nanotubos de carbono vão parar na tela da sua TV

Redação do Site Inovação Tecnológica - 29/04/2011
Nanotubos de carbono vão parar na tela da sua TV
O pequeno CN-VOLET emite luz forte e brilhante, gastando uma fração da energia das atuais telas de LED. [Imagem: Science/AAAS]
Indeciso entre uma TV de LCD, plasma ou LED?
Se você não se decidir logo, poderá se defrontar com uma gama de opções ainda maior num futuro próximo.
Um grupo de pesquisadores norte-americanos prevê que muito brevemente as telas de nanotubos de carbono deverão se tornar a mais nova opção em telas de alta definição, com alta qualidade de imagem e menor consumo de energia.
Telas de OLEDs
O novo estudo mostrou que ostransistores feitos de nanotubos de carbono consomem menos energia do que os transistores de silício, mesmo mantendo os níveis de brilho alcançados com os componentes atuais.
São os transistores que controlam a emissão de luz dos pixels individuais da tela.
O achado dá novo impulso aos esforços que visam tornar as telas de LEDs orgânicos, ou OLEDs, mais duráveis e mais eficientes energeticamente.
Os OLEDs já estão se tornando uma tecnologia interessante para a produção de telas de alto brilho, que equipam telefones celulares, TVs e monitores de computador.
No atual estágio, eles são rápidos, leves e consomem menos energia do que, por exemplo, a tradicional tecnologia LCD.
Contudo, ainda exigem altas tensões para funcionar - eventualmente, a única limitação para que ainda não tenham se tornado a tecnologia preferida dos fabricantes.
Nanotubos de carbono vão parar na tela da sua TV
Esquema do pixel feito com um transístor de nanotubos, chamado CN-VOLET - carbon nanotube enabled vertical organic light-emitting transistor, transístor emissor de luz orgânico vertical otimizado por nanotubos de carbono. [Imagem: McCarthy et al./Science]
Transistores de nanotubos de carbono
Agora, Mitchell McCarthy e seus colegas mostraram que os transistores de nanotubos de carbono são uma alternativa promissora para resolver essa deficiência.
A maioria das telas de LEDs orgânicos tem a mesma base: um transístor de filme fino feito de silício. O transístor alimenta um sanduíche de materiais orgânicos encapsulados por dois eletrodos metálicos.
Os transistores injetam corrente elétrica, por meio dos eletrodos, em suas respectivas pilhas de materiais orgânicos, que emitem os brilhantes feixes de luz que podem ser vistos na tela - os pixels.
Os pesquisadores chamaram seu novo transístor de CN-VOLET -carbon nanotube enabled vertical organic light-emitting transistor, transístor emissor de luz orgânico vertical otimizado por nanotubos de carbono.
Dissipação de potência
Para fazerem seu trabalho, os transistores precisam ser alimentados com uma determinada tensão.
O que os pesquisadores demonstraram agora é que os transistores de nanotubos de carbono precisam de uma tensão menor - medida em volts - para transmitirem sua corrente - medida em miliamperes.
E eles fazem isto sem comprometer o brilho emitido pela seção ativa do LED - medido em candelas por área.
Levando em conta todas essas medições, chega-se a um indicador, chamado dissipação de potência parasita, que mede, em termos gerais, a energia que o componente desperdiça para fazer seu trabalho.
Enquanto um OLED tradicional desperdiça entre 51 e 53% da energia que recebe, o CN-VOLET perde apenas 6% dessa energia.
Com isto, será possível construir telas com o mesmo brilho obtido hoje, consumindo menos energia.
Bibliografia:

Low-Voltage, Low-Power, Organic Light-Emitting Transistors for Active Matrix Displays
M. A. McCarthy, B. Liu, E. P. Donoghue, I. Kravchenko, D. Y. Kim, F. So, A. G. Rinzler
Science
29 April 2011
Vol.: 332, pp 570-573
DOI: 10.1126/science.1203052

Química super fina gera polímero biodegradável em processo contínuo

Redação do Site Inovação Tecnológica - 02/05/2011
Microrreator: Química super fina gera polímero biodegradável em processo contínuo
A matéria-prima química flui através do microcanal, repleto de esferas recobertas com a enzima catalisadora, saindo polimerizada do outro lado.[Imagem: Kundu et al./NIST]




Química fina e verde
Quando se fala em produção em escala industrial, sempre se imagina grandes fábricas, consumindo toneladas de matérias-primas por hora e gerando outras tantas toneladas de produtos.
Isso principalmente porque escala industrial sempre foi equivalente a produzir mais para que o preço por unidade do produto seja mais baixo.
Mas há inúmeros casos em que os produtos se originam de reações extremamente delicadas, feitas em pequena escala - e gerando produtos cotados em milhares de dólares por grama.
Esta chamada "química fina" está agora se voltando para a produção de polímeros "verdes", biodegradáveis e mais ambientalmente corretos.
Microrreator
Pesquisadores do Instituto Nacional de Padronização e Tecnologia dos Estados Unidos, acreditam que o melhor caminho para otimizar as reações da química fina e criar uma química fina verde está na tecnologia microfluídica.
A microfluídica é a tecnologia usada para construção dos biochips usados em exames médicos e pesquisas biológicas, mas também está presente em todas as impressoras jato-de-tinta, onde a tinta deve ser disparada sobre o papel em quantidades medidas em picolitros - 1 picolitro é igual a 10-12 litros
Usando um pequeno bloco de alumínio, a equipe da Dra. Kathryn Beers escavou microcanais dentro dos quais é possível realizar as reações que produzem os biopolímeros com uma precisão e um rendimento difíceis de obter em grande escala.
"Nós desenvolvemos um microrreator que nos permite monitorar a polimerização contínua à base de enzimas," diz ela. "Essas enzimas representam uma tecnologia verde alternativa para fabricar esses polímeros - nós estamos focando no poliéster."
Fabricação paralela
Em tão pequena escala, o processo ainda não é competitivo com as grandes fábricas, mas a abordagem é duplamente promissora.
Em primeiro lugar, os dados da observação da reação no interior dos minúsculos canais podem ajudar a melhorar o processo industrial em larga escala, tornando-o mais eficiente.
Em segundo lugar, é possível vislumbrar um futuro no qual esses microrreatores poderão ser colocados para funcionar em paralelo, criando superfábricas de produtos biodegradáveis da mesma forma que os chips são postos para funcionar em paralelo para criar os supercomputadores.
Microrreator: Química super fina gera polímero biodegradável em processo contínuo
A matéria-prima química flui através do microcanal, repleto de esferas recobertas com a enzima catalisadora, saindo polimerizada do outro lado. [Imagem: Kundu et al./NIST]
Polímero biodegradável
O grupo está estudando a síntese do PCL, um poliéster biodegradável usado em dispositivos médicos e utensílios domésticos descartáveis.
O PCL é sintetizado usando um catalisador orgânico à base de estanho, um produto altamente tóxico.
Os pesquisadores já descobriram uma forma mais ambientalmente correta de produzir o PCL, usando uma enzima produzida pela levedura Candida antartica.
Mas o processo tradicional, de jogar tudo dentro de um grande reator industrial, é muito ineficiente, quando se usa as enzimas como catalisador, para competir comercialmente com a técnica tradicional.
Química contínua
Dentro do microrreator, porém, o processo se dá na forma de um fluxo contínuo ao longo dos seus microcanais. A matéria-prima química flui através do microcanal, repleto de esferas recobertas com a enzima catalisadora, saindo polimerizada do outro lado.
Esse processo contínuo permite um monitoramento preciso da temperatura e do tempo de reação, que depende da velocidade na qual a matéria-prima é bombeada para dentro do microrreator.
Os dados detalhados da cinética química do processo podem então ser usados para desenvolver modelos mais acurados da reação, eventualmente escaláveis para os grandes reatores industriais.
Bibliografia:


Continuous Flow Enzyme-Catalyzed Polymerization in a Microreactor
Santanu Kundu, Atul S. Bhangale, William E. Wallace, Kathleen M. Flynn, Charles M. Guttman, Richard A. Gross, Kathryn L. Beers
Journal of the American Chemical Society
Vol.: 133 (15), pp 6006-6011
DOI: 10.1021/ja111346c