quinta-feira, 9 de junho de 2011

Componentes bioeletrônicos juntam proteínas e circuitos eletrônicos

Redação do Site Inovação Tecnológica - 09/06/2011
Componentes bioeletrônicos juntam proteínas e circuitos eletrônicos
Quando a luz é dirigida sobre as proteínas, elas convertem os fótons em elétrons e os despacham pelo eletrodo. [Imagem: Bonnell Group]
Pesquisadores desenvolveram uma forma de criar moléculas biológicas que podem ser diretamente integradas em circuitos eletrônicos, sensores ou células solares.
A técnica, desenvolvida pela equipe do Dr. Dawn Bonnell, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, permite que as moléculas possam operar em condições ambientais normais.
Para viabilizar o trabalho, eles tiveram que desenvolver também uma nova técnica de microscopia capaz de medir as propriedades elétricas dos dispositivos bioeletrônicos.
Molécula fotoativa
A técnica utiliza proteínas artificiais, aglomerados de peptídeos contendo em seu interior uma molécula fotoativa.
As proteínas são colocadas ordenadamente sobre eletrodos que transmitem cargas elétricas entre elementos metálicos e não metálicos.
Quando a luz é dirigida sobre as proteínas, elas convertem os fótons em elétrons e os despacham pelo eletrodo.
"É um mecanismo semelhante ao que acontece quando as plantas absorvem a luz, exceto que, no vegetal, o elétron é usado para uma reação química que gera energia para a planta," explica Bonnell. "Aqui, queremos usar o elétron em circuitos elétricos."
Isto já havia sido demonstrado antes por vários grupos, em pesquisas que mostraram que as proteínas realmente reagem à luz - contudo, não em condições práticas para implementação de um circuito elétrico.
"Nós não sabíamos o que acontece com os elétrons em eletrodos secos com essas proteínas. Nem sequer sabíamos se elas permaneciam fotoativas quando ligadas a um eletrodo," diz Bonnell.
Medidor elétrico de componentes biológicos
Construir circuitos eletrônicos com silício e trabalhar com eles é muito mais fácil do que com proteínas.
Pode-se medir as propriedades elétricas de um pedaço do semicondutor e, com base nesse parâmetro, miniaturizar os componentes. E, para trabalhar com eles, basta colocar a ponta de prova de um multímetro em suas extremidades e ler os valores.
Componentes bioeletrônicos juntam proteínas e circuitos eletrônicos
Os pesquisadores tiveram que desenvolver uma nova técnica de microscopia, adaptando um microscópio de força atômica (AFM) como um medidor para os seus componentes bioeletrônicos. [Imagem: Bonnell Group]
Mas não se pode "desminiaturizar" uma proteína para medir suas propriedades. E nem tampouco existe um medidor capaz de avaliar suas propriedades elétricas - sobretudo a capacitância, que indicará a capacidade de manutenção de cargas elétricas.
Para isso, os pesquisadores tiveram que desenvolver uma nova técnica de microscopia, adaptando um microscópio de força atômica (AFM) como um medidor para os seus componentes bioeletrônicos.
"O que nós fizemos na nossa versão [do AFM] foi usar uma ponta metálica e colocar nela um campo elétrico oscilante. Ao ver como os elétrons reagem com o campo, podemos medir interações mais complexas e propriedades mais complexas, como a capacitância," explicou Bonnell.
De posse do seu "multímetro biológico", os pesquisadores só tiveram que disparar o processo de automontagem das proteínas em cima do grafite, o material usado para fazer os eletrodos.
Células solares e sensores
É um passo importante, ainda longe de um circuito funcional, sem dúvida, mas o suficiente para apontar algumas possibilidades interessantes de uso.
As células solares representam um alvo natural para a tecnologia, uma vez que as proteínas podem converter os fótons da luz solar em elétrons e despachá-los para os eletrodos, produzindo uma corrente elétrica.
Outra possibilidade é que, vem vez de reagir com os fótons, as proteínas sejam projetadas para produzir uma carga na presença de determinadas toxinas, seja mudando de cor, seja acionando um medidor que possa ser lido em escala humana.
Isto as transformaria no elemento principal de um biossensor ou de um sensorquímico aplicável ajustável para detectar virtualmente qualquer substância alvo.
Bibliografia:

Direct Probe of Molecular Polarization in De Novo Protein-Electrode Interfaces
Kendra Kathan-Galipeau, Sanjini Nanayakkara, Paul A. OBrian, Maxim Nikiforov, Bohdana M. Discher, Dawn A. Bonnell
ACS Nano
Vol.: Articles ASAP
DOI: 10.1021/nn200887n
Componente e medidor

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Grafeno: até os defeitos são belos e funcionais

Redação do Site Inovação Tecnológica - 02/06/2011
Grafeno: até os defeitos são belos e funcionais
Os defeitos no grafeno podem também ser complexos, formando estruturas parecidas com flores. [Imagem: Cockayne,Stroscio/NIST]
O grafeno parece cada vez mais fazer por merecer o apelido de "material-maravilha" que lhe tem sido dado desde a sua descoberta, em 2004.
Além de propriedades imbatíveis quando puro, o grafeno apresenta alguns defeitos que bem poderiam ser chamados de virtudes: isto porque os próprios defeitos dão ao material novas funcionalidades.
Os defeitos surgem quando a estrutura atômica dessa folha unidimensional de carbono não se estrutura exatamente em uma rede hexagonal.
Por exemplo, quando o defeito se espalha ao longo da folha de grafeno, cria-se uma espécie de fio metálico unidimensional, capaz de conduzir corrente elétrica por vias bem determinadas, permitindo a criação de componentes eletrônicos com a espessura de um átomo.
Flores de grafeno
Uma equipe do Instituto Nacional de Padronização e Tecnologia (NIST), dos Estados Unidos agora descobriu que esses defeitos podem também ser complexos, formando estruturas parecidas com flores.
Os pesquisadores verificaram que os arranjos atômicos "defeituosos" levam à criação de sete estruturas diferentes, que tanto podem ocorrer naturalmente quanto serem induzidas no processo de fabricação do grafeno.
"Conforme o grafeno se forma sob alta temperatura, seções da rede atômica podem se soltar e girar", explica Eric Cockayne, coordenador do experimento. "Quando o grafeno esfria, esses seções rotacionadas ligam-se novamente com a rede, mas de forma irregular."
É quase como se um pedaço do grafeno fosse cortado com um tesoura, girado no sentido horário, e novamente costurado de volta no mesmo lugar. Como o remendo não se encaixa perfeitamente, formam-se belas "flores" no meio da cansativa tela de galinheiro original.
Grafeno: até os defeitos são belos e funcionais
Cortar o grafeno pode ser uma técnica muito prática para estudar as funcionalidades induzidas por seus defeitos. [Imagem: Hongjie Dai, Stanford University, and Michael Crommie et al]
Bordas do grafeno
E cortar o grafeno pode ser uma técnica muito prática para estudar as funcionalidades que essas "ligações cruzadas" entre os átomos induzem no material.
Cientistas da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, descobriram isso ao estudar as bordas do grafeno.
Dependendo do ângulo em que a folha de grafeno é cortada, os átomos compõem uma borda com um recorte diferente.
E isso é suficiente para que a fita resultante tenha propriedades eletrônicas, magnéticas e ópticas diferentes em comparação com a folha de grafeno como um todo - a largura da fita também influencia essas propriedades.
Grafeno: até os defeitos são belos e funcionais
Ausência de um único átomo de carbono na estrutura do grafeno produziu um momento magnético. [Imagem: UAM]
Magnetismo atômico
A equipe do Dr. Miguel Ugeda, da Universidade Autônoma de Madri, na Espanha, quis ir ao extremo: usando um microscópio de tunelamento, eles capturaram um único átomo de carbono no meio da tela de galinheiro, produzindo o menor defeito possível no grafeno.
O efeito foi surpreendente: a ausência de um único átomo reduziu dramaticamente a mobilidade dos elétrons e, mais importante, criou um momento magnético.
Embora o experimento tenha sido feito em alto vácuo e temperatura de 4K, os dados teóricos garantem que será possível produzir um campo magnético a temperatura ambiente.
Isto abre possibilidades em escala macro e em escala nanométrica. No primeiro caso, pode ser possível fabricar ímãs não-metálicos, flexíveis e muito baratos. No segundo, a spintrônica ganha um enorme reforço com momentos magnéticos produzidos literalmente em escala atômica, com a remoção seletiva dos átomos de carbono do grafeno.
Benção ou maldição?
Sendo o material mais forte que se conhece, a presença de defeitos poderia ser um motivo de preocupações.
Mas os cientistas do NIST argumentam que seus remendos dão flexibilidade ao material, impedindo que ele se quebre quando usado em funções estruturais.
Por outro lado, com um simples recorte sendo capaz de alterar totalmente suas propriedades, o material-maravilha parece ser suscetível demais a pequenas variações no processo produtivo, o que faz vislumbrar um caminho bastante árduo à frente.
"O otimista diz: 'Uau, veja só de quantas maneiras nós podemos controlar esses estados eletrônicos, isto pode gerar tecnologias totalmente novas!' O pessimista diz, 'Oh-oh, olha só quanta coisa pode perturbar o comportamento do grafeno'," brinca o Dr. Michael Crommie, da equipe de Berkeley.
Entre defeitos e incertezas, apenas uma coisa parece certa: os otimistas continuarão trabalhando.
Os defeitos do grafeno também estão por trás de um novo campo de pesquisas, chamado Valetrônica,
Bibliografia:

Grain boundary loops in graphene
E. Cockayne, G. Rutter, N. Guisinger, J. Crain, P. First, J. Stroscio
Physical Review Letters
May 2011
Vol.: 83, 195425 (2011)
DOI: 10.1103/PhysRevB.83.195425

Spatially resolving edge states of chiral graphene nanoribbons
Chenggang Tao, Liying Jiao, Oleg V. Yazyev, Yen-Chia Chen, Juanjuan Feng, Xiaowei Zhang, Rodrigo B. Capaz, James M. Tour, Alex Zettl, Steven G. Louie, Hongjie Dai, Michael F. Crommie
Nature Physics
11 May 2011
Vol.: Published online
DOI: 10.1038/nphys1991
Defeito ou virtude?

domingo, 5 de junho de 2011

Processador molecular faz cálculos usando DNA

Redação do Site Inovação Tecnológica - 03/06/2011
Processador molecular faz cálculos com moléculas de DNA
A expectativa dos cientistas é que as pesquisas se encaminhem para a integração dos processadores moleculares em sistemas biológicos, como uma célula viva, para diagnosticar e tratar doenças. [Imagem: Science/AAAS]
Processador de DNA
Lulu Qian e Erik Winfree, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, nos Estados Unidos, usaram mais de 100 fitas de DNA para construir seu circuito bioquímico.
As fitas de DNA foram dispostas em múltiplas camadas, formando "circuitos" digitais que podem executar as operações AND, OR, NOR e outras operações lógicas semelhantes.
O projeto representa mais um passo da chamadacomputação molecular, que demonstra como circuitos bioquímicos mais sofisticados podem ser construídos em escalas cada vez maiores.
A grande vantagem do uso de DNA, em relação a outras abordagens de computadores químicos, é que essas moléculas são muito estáveis e bem-conhecidas pelos cientistas, havendo muitos recursos técnicos para manipulá-las.
Integração com a biologia
A expectativa dos cientistas é que as pesquisas se encaminhem para a integração desses circuitos em sistemas biológicos, como uma célula viva, por exemplo, para diagnosticar e tratar doenças.
Processador molecular faz cálculos com moléculas de DNA
O processador de DNA executa operações lógicas por meio da ligação e replicação das sequências de DNA. [Imagem: Science/AAAS]
O processador de DNA agora construído executa operações lógicas por meio da ligação e replicação das sequências de DNA.
Embora pesquisadores japoneses já tenham demonstrado o princípio de um processador molecular capaz de superar os supercomputadores atuais, o circuito de DNA é bastante lento: ao longo de 10 horas, o processador molecular é capaz de calcular uma raiz quadrada de um número não maior do que 15.
O futuro da computação molecular
Quian e Winfree também construíram um "compilador" para o seu processador de DNA, que permite que seus circuitos bioquímicos sejam programados de forma similar à usada nos circuitos lógicos tradicionais.
Isto parece ser uma vantagem, embora ainda não esteja claro se o futuro da computação molecular será imitar os computadores eletrônicos, ou se eles tomarão seu próprio caminho - um processador molecular que imita o cérebro humano, por exemplo, opera naturalmente de forma paralela, fazendo cálculos muito mais rapidamente.
Bibliografia:

Scaling Up Digital Circuit Computation with DNA Strand Displacement Cascades
Lulu Qian, Erik Winfree
Science
3 June 2011
Vol.: 332 - pp 1196-1201
DOI: 10.1126/science.1200520

Scaling Up DNA Computation
John H. Reif
Science
3 June 2011
Vol.: 332 - pp 1156-1157
DOI: 10.1126/science.1208068
Pesquisadores construíram um computador molecular, no qual os transistores eletrônicos foram substituídos por moléculas de DNA.